quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

EPTG

Uns seis anos atrás, estava eu lá na fatídica casa do Sr. Moko-Sotustra. Dentro do possível, imitando o velho estilo Moko-Sotústrico daquele tempo, eu poderia dizer algo como o seguinte:

— Lá pelas tantas, Leksotustra solta uma das suas: “Pô, já acabou o cigarro?... Então me dê aí um remédio qualquer, nem que seja um café bem forte, que estou precisando de alguma droga..."

É mais ou menos como me sinto neste momento. A noite acaba, e fico aqui com toda a energia do mundo, sem querer pensar que, depois de um momento tão feliz quanto breve, amanhã tudo volta ao normal. Aquele “mapa astral” da lua também me contou alguma coisa a respeito desse sentimento, mas me esqueci do quê antes de começar a escrever esta frase. Lembrei depois, mas agora fica claro que as palavras, ainda que precisas, não denotam tanto quanto o sentimento, indescritível.

Bem, afinal, noto que já começo a fazer alguns planos. As ideias já se estabilizam, meio que à revelia. Noto que tenho medo agora de muita coisa, certamente porque ainda não admito que sei do quê. Eu sei o que me aflige. No fundo, o medo ainda é um só; o problema mesmo permanece um só. Tenho medo de reconceber aquelas coisas profundas, mas, também um tanto à revelia, vou fatalmente recomeçando a aprofundar.

(...)

Depois de chegar em casa de novo milagrosamente são e salvo, fico pensando sobre a que se deve minha paixão pela velocidade. O poeta me disse certa vez que era pelo desejo de morrer; “punção de morte”, se não me engano. Mas conheci outros freudianos que me soavam mais verossímeis: um deles era a Fernanda Mara, que nos deixou há algum tempo; outro é o Gabriel, que, dentre todos, me parece o mais razoável. A Fernanda, claro, era mais verossímil, com seu discurso racionalmente apaixonado, límpido e profundo. O Gabriel mostra ter mais dúvidas (com o que me identifico bastante). O poeta é do tipo que me parece ter certeza demais. Nenhuma das explicações é aceitável.

Com certeza, Freud não explicou tudo, nem soube fazer soar satisfatoriamente tudo que explicou. Não obstante, Freud era outro apaixonado, e por isso tem seu mérito inquestionável. Lembro-me também bastante do Luís, que apreciava Vygotsky em detrimento de Piaget. Claro, sou sempre muito mais Piaget — é que tenho medo de decepções —, mas recebi melhor o russo depois de ouvir o belorizontino. Sofro de pavor e paixão por todas as certezas — Vygotsky era um convicto —, e, nesta fase da vida, tenho agido como gato escaldado. Tenho medo de acreditar em coisas sedutoras, a exemplo do passar da crise, o prenúncio da nova decepção... Ainda não estou pronto para outra decepção. Claro, com toda a frieza do mundo, não que a providência se importe...

(...)

Hoje, ainda, estou pensando em tornar a compor. Esse sentimento não é tão intenso, mas é notório pela persistência. Claro, por fim, já não me sinto tão desorganizado como mencionei antes; claro, afinal, a nova palavra-de-ordem é “cautela”. Algumas coisas vêm, vão e voltam; após cada ciclo, parecem mais fortes, seja pela persistência ou pela vigilância. É também por isso que venho me sentindo velho — uma ideia que rechaço, até onde me conheço —: é que parece sobrevir certa carência de novidades, ou mesmo certo apego pelo familiar... É por essa carência que insisto em ter em mim um tanto de coisa esquisita, que vem, passa e volta. Sinto falta do que volta, do que persiste; talvez porque não resisto muito, pois ainda que consiga ser duro, não consigo deixar de ser leve. O que pesa, afinal, é aquilo que o Anjo sempre me disse, desde o começo de seus tempos; e fico voando por aí, só aceitando a verdade pelo tempo preciso para descansar...

(...)

Sei que há muito que aprender direito. (Por exemplo, ainda não aprendi a respeitar direito os clichês.) Decepciono-me comigo mesmo deveras à toa. O Anjo alerta que só me resta compreender, porque no fundo já sei; no fundo é isso mesmo de que estou farto de saber. É que compreender dá muito trabalho, ou dá muito de alguma outra coisa que deveria justificar minha incompetência. Afinal, estou cansado. Neste momento, quero dormir, mas alguma coisa tosca me impede. Acho que estou com medo do amanhã...

Um comentário:

  1. É muito bom ter você de volta, aqui!
    Adorei isso: "Sofro de pavor e paixão por todas as certezas".
    Li seu texto ouvindo Diana Krall, foi uma boa mistura! Só faltou uma dose de café! =D
    Grande abraço

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