sábado, 18 de dezembro de 2010

December Crisis

Às vezes parece que sou burro. Claro, devo mesmo ser um tanto, mas às vezes parece também a mim, que estou acostumado a não me conceber dessa forma. Às vezes desconfio da capacidade humana de aprender, ou, blasfêmia infinitamente maior, às vezes desconfio dolorosamente da minha própria capacidade de evoluir. Parece que todos os meus passos são curtos ou tortuosos demais...

Ao que tenho notado, tenho desperdiçado grandes oportunidades na vida. Parece que sou lerdo; que deixo as coisas passarem... Lamento que as soluções me apareçam tão óbvias depois de as oportunidades terem passado. Certamente, a expectativa é uma “faca de dois legumes”, “a luz anal de um vagalume que ilumina o meu sofrer”, e que, se por um lado me dá alguma segurança, pelo outro fornece munição aos meus erros mais lamentáveis.

As grandes oportunidades passam por mim, que observo atônito, como mero expectador de minha própria vida. É que — talvez noutra explicação simplista — não estou acostumado a reconhecer oportunidades em meio às dificuldades. No máximo, acostumo-me a adotar um padrão mais ou menos razoável, que me torna nalgo como um orador estúpido e vazio, que entretém, quando muito, alguns ignorantes mais ou menos capazes de digitar alguma coisa na urna eletrônica. Às vezes me sinto desprezível a tal ponto que o Tiririca parece um Buda.

Isso, ao que suponho, tem tudo a ver com a Ex-Primeira Dama, de três anos atrás. — Tadinha!... ela certamente nunca notará minhas cicatrizes daquela tal festa de fim-de-ano... Eu me lembro também que talvez justamente por estar sem toda essa carga de responsabilidade, eu podia naquela época (apenas três anos atrás!) torrar numa breve noite dois maços de Hollywood vermelho, sem sentir cócegas em meu sistema respiratório... Tudo desde então ficou pesado demais, como se eu tivesse aprendido a predispor minha alma à podridão, de um jeito ao qual meu corpo, como todo bom espécime, acabou por se sujeitar. Estou fraco, à imagem de minha alma, terrivelmente cansado de minha falsidade; cansado da mesma mentira que me ensinou a viver a então Primeira Dama, à sua própria revelia, naquela fatídica e riquíssima festa de fim-de-ano...

Agora, ao que parece, adoeço com muito mais facilidade. Meu lado honesto, não obstante, alerta que isso é uma falácia, pois me lembro de estar doente mais ou menos pelos mesmos motivos desde os primórdios de minhas aventuras belo-horizontinas. Não costumo tolerar bem a privação de sono, nem a má alimentação, nem o excesso de cigarro. Isso, ao que parece, é desde sempre, embora, apesar da sabedoria que a idade deveria dar, talvez tenha se tornado hoje mais fácil repetir todos esses equívocos, sempre mais e mais eficientemente. Sou mesmo um cara idiota, incapaz de aprender com os erros; incapaz de valorizar alguns acertos simples, que não por isso deveriam deixar de serem valiosos.

(...)

Estou com sérias dúvidas sobre o que fazer. Os últimos dias me mostraram que meu corpo impõe um limite mais rigoroso que o que me disponho a aceitar. Parece que não adianta muito insistir, pois não tardam os sinais do cansaço. Preciso de férias; de férias longas; talvez como o Bilbo, quando decidiu deixar Bolsão, e talvez da mesma forma ou pelo mesmo motivo. Estou me sentindo verdadeiramente velho. Já não me orgulho por ter o passo mais rápido, pois já não o tenho — exceto talvez saindo da estação do metrô —; agora peço aos meus acompanhantes que andem mais devagar, de forma que eu possa acompanhá-los. Talvez porque eu esteja doente; talvez porque eu tenha estado doente; talvez porque eu agora seja doente, carente da capacidade de ser sincero com aqueles a que quero bem — e que, a despeito de todas as minhas atitudes, insistem em só me fazerem o bem, mesmo durante uma fria crise de dezembro.

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