quinta-feira, 30 de outubro de 2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Comentários aleatórios

Então, uma coisa muito agradável que me acontece com Dostoiévski é a hora de parar: simplesmente começo a pensar e paro. Sempre é por conta de alguma coisa de suma importância em minha vida que é suscitada, mesmo que não tenha nenhuma ligação aparente com o que acontece com Raskólnikov. (Talvez haja um limite na quantidade de alguma coisa a que meu espírito é capaz de suportar, além de que é ativado algum mecanismo de restabelecimento...) Hoje, por exemplo, estava decidido a terminar o livro, mas, num momento aparentemente qualquer, no meio dum parágrafo, me deparo subitamente com alguma coisa do meu cotidiano, com o que me prendo por mais de uma hora. E fiquei feliz por ter imediatamente abandonado o livro sobre a mesa, pois sabia que já era a minha hora, a da minha própria vida, a do meu próprio cotidiano; que dificilmente voltaria a ser a hora dos problemas do protagonista de Crime e Castigo. Desta vez, a nenhuma "grande conclusão" cheguei; fiquei feliz, assim, apenas divagando, pensando em alguns breves diálogos que tive hoje por meio de mensagens instantâneas, ao som da minha própria composição — aquela de que mais gosto — cantada por mim mesmo e devidamente arranjada, como só em pensamento seria possível. Mais tarde, de livro ainda fechado, quando senti que era a hora de ir-me embora não me fiz de rogado: apenas vesti o capacete e vim. Desta vez não foi nem o enfado nem o entusiasmo o que me moveu, mas a simples vontade; tudo muito leve e natural. Talvez uma conseqüência da "abolição dos princípios"...

Meu lance com Raskólnikov aos poucos vou entendendo melhor. A tensão se desintensifica; permanece aquilo que há de mais sincero — o que raramente é o mais emocionante. Fica-me, então, mais claro aquilo de que eu já suspeitava há cerca de uma semana, quando a leitura estava ainda mais ardente... — Também, pudera!, naquela época o sentimento do próprio Rodion era mais intenso e, assim, mais havia na fonte de que eu me deixava voluntariamente contaminar. É muito mais tranqüilo agora, quando já se aproxima o final, o qual conheci já há alguns anos (embora numa tradução triplamente indireta: russo—francês—português—mosaico); afinal, ainda, não deixa de haver certa esperança de que nem tudo esteja perdido, muito embora as mesmas perspectivas redentoras já tenham sido consideradas desgraçadas noutro tempo... Resta a mensagem sobre os apesares; sobre o que pode ainda haver de bom... Resta o recurso da própria vida, cujo valor é a priori, independente das circunstâncias... Assim, como se caso houvesse duas pessoas que se tivessem decidido ao suicídio, a primeira fã do Aquaman e a segunda do Spiderman, seria óbvio que esta escolheria o prédio e aquela ao mar. — A proposito, la vita è bella!...

No trabalho foi também um dia especial. Com as ferramentas de que disponho hoje, seria muito difícil (e até mesmo injusto) mensurar minha "produtividade" de horas atrás. Isso porque, creio, essas ferramentas sejam convenientes para comparar máquinas. — Aliás, é também sobre isso minha mais agradável conclusão de hoje, que eu formava enquanto descia as escadas do prédio rumo ao bar e ao Dostoiévski:  "A função mais humana que existe é a do palpiteiro." Eis o que quero ser quando crescer!... É o que fui hoje, quase bem o suficiente: bem quase a ponto de não me sentir culpado por não ter sido, como de costume, uma boa máquina.

Decreto

Revogam-se todos os princípios.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Observações preliminares

Acontece comigo, às vezes: não vou com a cara do cara. Aconteceu-me com René Descartes, não somente pela fragilidade das suas duas primeiras conclusões (e também de muitas outras), mas principalmente pelo estilo literário que encontrei nas duas obras a que tive acesso, especialmenete no Discurso do Método. Afinal, como não fui com a cara dele (ou com a do tradutor), pouca coisa guardo de suas idéias. Mas, ainda assim, lembro-me dele com carinho, por conta da sua teoria sobre a evidência.

A importância que Descartes dá à evidência beira o religioso — com o que fiquei fascinado. Antes de meu contato com ele, ainda não havia concebido a razão como religião, nem mesmo hipoteticamente. Depois, mais tarde, andei me esbarrando com alguns teóricos do catolicismo e ouvi falar da proposta da Teologia; tudo, aliás, coisa que sempre rondou meu cotidiano, mas a que então não havia dado atenção. De certa forma, não deixo de ter sérias reservas quanto ao "critério da evidência" de Descartes, já que tanta coisa me aparentou ser fantasiosa na parte de sua obra que não se restringe à matemática; mas, por outro lado, muito me seduz a idéia de ser capaz de reconhecer a verdade, como se ela emanasse das proposições, à espera de alguém capaz de captá-la. Fico seduzido como Raskólnikov com seu Napoleão Bonaparte — e talvez tão gravemente quanto.

Por fim, com todas as reservas quanto à infalibilidade da evidência (ou do que quer que venha a receber esse nome), como bom partidário da dúvida metódica, adoto o princípio da evidência como guia, já que a verdade, se existe, é forçosamente evidente. Assim, deixo as ressalvas apenas para quanto à minha competência material de reconhecê-la completamente — uma porta desimpedida para a reconsideração.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Crítica de princípio

Por que sentir culpa?

Apologia da etiqueta

Gosto de coisas bem-feitas, ainda que não o pareçam à maioria. Gosto de coisas sinceras, mesmo que sejam mentiras (lembrando da afirmação do Cazuza). Quase não me interesso por política, mas freqüentemente tenho me deixado fascinar por marketing. Até lamento por não ter observado melhor a campanha de Leonardo Quintão, pois, se eu o tivesse feito, certamente me teria sido mais interessante assistir à paródia encenada pelo Tom Cavalcanti. De qualquer forma, alegra-me a eleição do Márcio, pois tenho por ele algum sentimento simpático parecido com o que sempre tive em relação a José Serra (que talvez tenha tido a mesma orientação marqueteira). Gosto de aparências, que, bem barbeadas e penteadas, não deixam de ser formas de arte.

Digo isso a propósito da Malu, que vejo que mais me surpreendeu por parecer boa. Ela consegue ao mesmo tempo parecer e ser (preciso ressaltar). Não deixo de ter também certo sentimento de lamentação pelo fato de ela não se esforçar tanto pela aparência nas execuções ao-vivo. Chega a me sugerir que seja uma musicista de estúdio, como a Adriana Calcanhotto (segundo a vi dizer em uma entrevista), embora sem aquele pavor pelas gravações ao-vivo. Certo tempo atrás, cheguei a estar certo de que só conhecemos a qualidade de um músico quando lhe assistimos ao-vivo. Pensando assim, a Legião Urbana perdeu comigo alguns pontos — o inverso do que ocorreu com o Barão Vermelho, a que assisti numa edição do Pop Rock Brasil com meu pai. Já não sou tão radical nessa questão, mas ainda não desisti por inteiro da hipótese. É realmente engraçado como alguns músicos parecem desdenhar a apresentação ao-vivo, ao julgar pelo decaimento da qualidade. Suponho que isso se deva a alguma instabilidade artística; a alguma dependência de alguma coisa contingente, que precise de algum estímulo paciente e talvez solitário, que melhor combine com o estúdio que com a correria do palco. Há também outros elementos possíveis, tais quais o entorpecimento causado pelo álcool ou por outras drogas, a qualidade técnica do equipamento e das instalações, o nervosismo (menos provável) e, pelo outro lado, a tranqüilidade e o estojo de maquiagem que se encontram em todo estúdio. São, todos, efeitos dignos de nota e certamente incidentes, mas não me parecem suficientes para justificar a tão grande diferença de qualidade que se mostram em alguns casos, como ocorre com a Malu ainda mais que com a Adriana.

Quero ter a oportunidade de assistir a uma apresentação intimista da Malu. Não me refiro ao intimismo do ponto de vista estritamente musical, mas quanto ao estado de espírito. Pode ser que ela cantasse mesmo Retrato Perfeito nessa ocasião. Mas eu gostaria de assistir a um estado de espírito como o que acredito presenciar ao ouvir Filos, na gravação em estúdio. Até fico incomodado ao sugerir uma comparação com esta versão ao vivo. Sei que já havia mencionado essa questão noutra ocasião, com a música Retrato Perfeito, que conheci logo em duas versões no PalcoMP3; mas desta vez não estou falando como fã (embora também não faça nenhum esforço para o dissimular), mas como crítico, como filósofo-de-bar. O propósito deste texto é tratar da aparência, sobretudo. Afasta de mim a afirmação de que a Malu apenas parece! Mas é também fascinante como a mesma Malu é alternativamente cautelosa ou negligente.

Faço aqui uma apologia da estética — aliás, da etiqueta —, em detrimento da ética. E não me parece demais afirmar que entre a ética e a etiqueta, esta é a mais naturalmente artística.

domingo, 26 de outubro de 2008

Aprendizado

Alguns dizem que sou um cabeça-dura; que, quando meto uma idéia na cuca, tão cedo nada consegue retomar minha atenção. Na maior parte das vezes discordo discretamente, pois não sou assim tão teimoso e insistente, enquanto é relativamente fácil que algo me faça desistir de algum propósito. Mas há ainda algumas ocasiões em que discordo ardentemente, pois nem de longe sou tão teimoso como gostaria de ser, como decidi que serei. É que tenho algumas idéias nas quais creio, as quais caso se mostrem verdadeiras, revelarão grandes tesouros. Algumas vezes, gosto muito da busca por esses tesouros, tanto que me proponho a me dedicar a ela cada vez mais.

Dessarte me incomoda sobremaneira "a perda do fio da meada" — o que, lamentavelmente, me ocorre com bastante freqüência, talvez por causa de minha incapacidade de distinguir quantidade suficiente dos fatores que desencadeiariam o efeito cuja reprodução era pretendida. Pois, muitas são as ocasiões em que culpo a mim mesmo pela falta de empenho e, assim, dou início ao processo de cultivo de uma possível futura monomania. Mas, por fim, já suspeito que eu mais me dedique à própria dedicação que à coisa, o que torna o processo ao mesmo tempo mais árduo e menos frutífero. (O simples fato de reconhecê-lo já me parece representar uma esperança de sanidade. )

Mas não posso deixar de notar o desenvolvimento de minha estabilidade. Hoje foi um dia relativamente ruim: sonhei que havia enlouquecido, acordei irritado e passei quase todo o dia mal-humorado.  Mas mesmo o mau momento não foi muito semelhante aos outros, que já tanto houve; talvez a maior semelhança tenha sido uma sensação tátil, que — como imediatamente vim a me lembrar —, já me sugeriu a eternidade do sofrimento, como se por instantes (horas) intermináveis me alcançassem as chamas imortais do inferno. Mesmo em meio às características dificuldades mentais e motoras, desta vez o tormento foi suavizado mais rapidamente, num sinal de que tenho feito lá meus progressos...

O descanso de Osama

Então, neste domingo, já não tenho compromissos externos. Até teria ficado muito contente se não tivesse precisado de sair de casa, mas, infelizmente, a nossa democracia ainda nos obriga a comparecer à urna, nem que seja para afirmar que não sabemos em quem votar ou, pior, para declararmos que não estamos em nosso domicílio eleitoral. Nunca fui tão contra o voto obrigatório como hoje sou (ou estou).

Ainda não me está claro o que me significou o dia de ontem. Foi um dia bom; foi fantástico subir ao palco novamente, como integrante de uma banda; foram momentos divertidos, cheios de entusiasmo, com colegas que inspiram confiança e amizade. Mas, embora minha intuição vote contrariamente à existência de coisas indefectíveis, no momento ainda não estou em paz. De certa forma, sinto-me como um noivo que sobe ao altar tendo consciência de que não deseja que o casamento dure até que a morte os separem. Mas farei com que não leve muito tempo para que eu me conforme, pois não pretendo me deixar prejudicar pelo excesso de romantismo. Bem, algum romantismo talvez ainda convenha, nem que seja como medida cautelar, dada a fase de adaptação à aplicação dos novos princípios. Talvez nesta última observação esteja o principal argumento a favor do meu possível uso de um nome artístico alternativo — no caso, "Osama", apelido com que o cara das guitarras me surpreendeu logo em nosso primeiro contato.

Ainda não estou plenamente convencido de que "Osama" poderia me servir de tanto alívio. Talvez seja apenas uma declaração de protesto em relação à impossibilidade da minha satisfação completa. Incomoda-me isso também, pois eu poderia nunca encontrar a possibilidade de me apresentar como Lekso caso eu fique à espera de algum momento ideal, completamente ideal. Por outro lado, ainda, muito mais me incomoda a minha insegurança, que se manifesta em relação a qualquer coisa em potencial — por exemplo, em relação às minhas pretensões de vocalista, que não poderei satisfazer nessa banda. Bem, é apenas a insegurança (e também ainda outros pecadinhos)!... Pois, a imaginação é o limite!... — E finalmente estou descansado.

sábado, 25 de outubro de 2008

Post-scriptum

A esta hora estou cansado, após um longo dia de intenso trabalho, e, creio, não serei capaz de desenvolver as idéias neste blog como eu pretendia, há alguns minutos, ainda sobre duas rodas. Amanhã haverá de ser ainda outro dia de intenso (e sobretudo importante) trabalho; eis por que não desejo prolongar meus esforços contra minha natureza (ou contra meus hábitos) ainda mais que o que já tenho feito nos últimos dias — muito embora eu julgue estar ainda muito distante dos meus limites. Inclusive já não me seduz tanto, como antes, a idéia de lutar contra os limites — e eis um pensamento que me vem com sabor de vitória.

Por fim, a propósito da última máxima, inspirada na obra de Dostoiévski, pareceu-me pertinente esclarecer alguma coisa, que agora me escapa. Talvez mais alguma peça tenha se encaixado em minha mente, tão bem que já não posso distingüi-la da "massa original". Diante disso, dado o que já mencionei no parágrafo anterior, só me resta afirmar que sinto estar em um bom caminho, e que noto cada vez mais claramente o desenvolvimento da minha paz.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sexto princípio

Se não há culpa, não há pecado.

Observações preliminares

A caminho daqui, cerca de dez quilômetros distante deste blog, pensei em escrever sobre algo inverso; sobre o desdém que tenho (ou que teimo em ter) em relação ao conhecimento que derive fundamentalmente da experiência. Dado o caráter claramente adversativo da frase anterior (e, inclusive, considerando a observação entre parênteses), parece-me até redundante afirmar que meu atual posicionamento é o oposto, nem que seja em relação às afirmações categóricas que eu formulava no caminho. Talvez seja porque me acostumei a tratar de minhas próprias questões com demasiada superficialidade — aspecto que bem deve estar presente nestas "novas" palavras — , além de subsistir a tal  necessidade de manter a dita "coerência interna" de meus discursos. Então, como nem sempre recorro ao subterfúgio das "fases", "momentos", "instantes", "eras", "horas" ou "idades", termino me sentindo tentado a manter, ainda que em meu próprio prejuízo, conclusões ou deduções que, com um pouco menos de desespero, bem poderiam ser substituídas por outras mais adequadas às minhas descobertas.

Percebo agora, depois das curvas mais enfáticas da rodovia estadual e, especialmente, depois de outros eventos mais simples (e menos a propósito do cartão-de-visitas), que o empirismo é fundamental. Pois, de início pensei em lhe emprestar a palavra "primário", com o propósito de subjulgá-lo, como se fosse o empirismo algo temporário, um degrau, uma etapa a ser superada rumo ao racionalismo utópico a que me senti obrigado a defender diante dos conceitos de "Renascença" e "Idade Média", a que já tanto me referi neste blog. Pois, venho afirmar que o empirismo é o conhecimento por excelência; em última análise, qualquer outro método só se consagra por ele e enquanto tiver seu aval.

É verdade também que eu poderia me esconder, evitando assim o constrangedor "pedido de desculpas"; afinal, as novas idéias poderiam facilmente se enquadrar no perfil "renascentista" — além de que empirismo e racionalismo não são conceitos necessariamente excludentes. Noutra ocasião talvez eu até discutisse a questão comigo mesmo um pouco mais antes de escrever aqui minhas impressões; assim seria, não fosse meu desejo de registrar necessariamente agora minhas descobertas (não inteiramente novas, mas especialmente mais nítidas), contemporâneas ao meu contato com Raskólnikov.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O sonho

Tenho alguns, poucos, planos; a maioria seria melhor chamada de "hipótese" — no máximo, de "planos hipotéticos". Expectativas tenho um pouco mais freqüentemente, e as tenho aproveitado com objetivos lúdicos; até procuro atraiçoá-las primeiro, antes que elas mo façam. Já não tenho tido muitos sonhos — especialmente desde que passei a valorizá-los muito —, mas um sonho importante me ocorreu há pouco tempo.

O tal sonho me fez supor que a diferença entre a realidade do sono e a da vigília esteja apenas na intensidade. Na intensidade de alguma coisa incerta, é verdade; mas, ainda assim, apenas em intensidade. Na essência, é tudo o mesmo lance — inclusive o lado acrobático da coisa —; tudo a mesma realidade...

Para atingir a perspectiva que acabei de propor, a "realidade" deve ser concebida subjetivamente, é claro. Inclusive passei muito tempo julgando que essa observação seria desnecessária; mas tenho notado que a crença no "mundo real" tem muito mais adeptos que o que me parece verossímil. Tem muita gente por aí vivendo no seu próprio "mundo real". Às vezes até me parece ser uma crença útil. Útil e, especialmente, cômoda. E já estou começando a me acostumar a valorar "comodismo" como algo bom. Afinal, por que algo cômodo haveria de ser invariavelmente mau?! Mesmo por que, afinal, tudo o que se estabelece é cômodo... E, de certa forma, uma longa temporada num hospício talvez não seja algo assim, tão... tão inconvenientemente incômodo... Aliás, qualquer lugar pode pertencer ao mundo real... ou não... conforme convir... ou for cômodo...

Mas agora voltemos ao sonho! Aliás, tive uma idéia melhor: vou voltar a ele sozinho. — Boa noite!

Comentário

Bem, é claro que há muita bobagem nesse post. Assim entenda-se por "bobagem": "aquilo que não interessa". Minha ocupação e, muito especialmente, minhas preocupações eram outras naquele tempo. Era o tempo das primeiras cruzadas!... Kkk!... Hoje é tempo de Rousseau!... Kkkk!!!... Tudo tão próximo da Idade da Pedra!... Kkq... q... ...

"A perfeição só é possível na ausência do tempo." Ponto para Sidarta, que sabia das coisas!... Tendo isso em mente, é impossível não saber respeitar.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Café com namoro (Republicação)

Belo Horizonte, 6 de maio de 2006.

Recentissimamente, descobri que minha mente é bastante diferente do que costumo — ou costumava, ao menos — adjetivar de "normal". Neste momento, até me surge a oportunidade de aprender a me amar mais, verdadeiramente. E a notícia mais animadora das minhas últimas 24 horas é minha loucura. Alguém, certo dia, me perguntou se eu estava ficando louco — e me senti ofendido. Agora, estou em paz, e minha loucura se torna motivo de grande alegria.

A normalidade nunca me atraiu — ou, pelo menos, não me lembro de nada nesse sentido. Odeio a mediocridade — e a isso se deve a maior parte das vezes em que odeio a mim mesmo. Para mim, mediocridade é íntimo amigo da normalidade; ser normal é ser medíocre. Eu me amo por ser louco. E sou mesmo louco e doente e mau — além de egoísta, o que eu já sabia há séculos. E eu quero ser cada vez mais egoísta, mau e louco. E quero parar de me esforçar para ser aquilo que vocês querem que eu seja. — Mas, por favor, continuem me pressionando, pois isso é um bom tônico para minha companheira mais fiel, a insanidade.

Neste momento, o café é também grande e adorável companheiro. Adoro essas coisas esquisitas, que nos provocam o sentimento de amor e ódio. Gosto da oportunidade de passar por coisas que ofendam minha idiotice, como essas necessidades idiotas de dormir, comer ou "ser feliz". O café me passa a impressão de que não vou conseguir dormir, e me dá o estranho desejo de bebê-lo até eu perder a noção de se estou tonto ou apenas com os olhos molhados. E há a dor-de-cabeça e o enjôo, de que gosto menos. Mas que mal há? É sábado, então até posso sentir enjôo; ao menos, não preciso me importar com o que os infelizes segurados do INPS vão falar quando eu me levantar daquela porcaria de guichê para tomar o meu querido café. E que eles entendam o recado do INSS: morram pobres e cedo! — Ah, mas acabo de me lembrar de que o estoque de café institucional acabou; então, morram alguns dos meus colegas cafezeiros daquela também infeliz agência, para que me sobre mais café!

Estou cansado de lutar contra minha loucura. Estou cansado de tentar não falhar. Estou cansado de tentar ser diferente do que sou. Estou cansado de tentar ser sincero. Estou cansado de tentar convencer vocês de que eu sou alguma coisa que presta. E eu amo o cansaço, assim como o café.

Certo dia, alguma bia me disse que há um belo arco-íris depois do cansaço; e que há lá um belo papagaio a disparar considerações sobre si mesmo; e que há lá também um belo maestro que encanta uma platéia paralizada por sua orquestra desafinada pelo papagaio; e que essa platéia se encanta com o maestro, o papagaio e, sobretudo, consigo mesma; e que, depois desse belo arco-íris, cruzada a imperceptível fronteira de um novo dia, descobrir-se-ia uma intensa e branca e falsa paz doméstica, que anunciaria um tirano e apaixonante horizonte de belezas e horrores. Por causa disso, um dos setores secretos do meu agora ardente coração possui um intenso carinho pela Segunda Divisão do Brasileiro, e amo o cansaço, o café e o traiçoeiro arco-íris. Por causa desse amor, até quero me esquecer de que beatrizes mentem, apesar de elas cometerem o multi-afiançável crime de fazerem-no ainda mais que eu mesmo.

Atualmente, considerando que nos últimos anos tenho desesperadamente procurado algo com que eu sempre possa contar, minha nova namorada é minha loucura. Ela me ama mesmo quando infielmente me esqueço de sua presença. Um dia, até pensei que ela fosse ciumenta, mas aquilo que vi era simplesmente ela mesma, que possui infinitas caras. Namorá-la é como estar rodeado por infinitas mulheres misteriosas e misteriosamente apaixonadas. E tanto sou mesmo ignorante e incompetente que diversas vezes rejeito uma sua bela face por não reconhecer sua beleza misteriosa, sempre muito maior que minha atenção. Se ela continuar assim, compreensiva, talvez nos casemos futuramente. — Ela até fez um aborto na semana passada, de um filho que eu não saberia amar, mas parece que já está grávida novamente. Uma atraentíssima característica da minha loucura é que ela não se importa com o aborto, nem com o infanticídio; continua sempre presente, com suas infinitas caras.

Resumidamente: estou muito bem, mas com muitas saudades.

Carinhosamente,


Lekso

Cafeína russa

Raskólnikov é meu irmão. Sinto isso quanto mais o conheço. Bem, é sabido que não sou daqueles que teimam em não se deixarem apaixonar. Na realidade, a frase anterior é, antes, mais um de meus eufemismos. Mas, nesta fase de irmandade com Ródia, sou indeciso quanto ao que sinto sobre minhas esquivanças, assim como quanto a quaisquer outras das minhas firulas habituais. Desdenho a tudo isso, agora. Resta saber o que permanecerá após o fim da leitura.

Este momento é outro daqueles regados a cafeína. Pois, acabo de perceber que ainda não republiquei Café com namoro, de 2006 — o que é um problema muito fácil de resolver. Fico pensando sobre o que aquela época me significou... Especialmente quanto ao sentimento de euforia, que aprendi a temer — o que mais marcou aquela fase. Lembro-me de algo que me disseram numa aula de artes, ou de história, ou de piano: que os movimentos, as "eras", são denominadas por aqueles que as sucedem. Pois, assim me sinto: como quem, embora sobrevivente, seja também sucessor de suas próprias eras. Neste momento, a denominação e o julgamento não me parecem algo digno de nota. Mas creio que convenha relembrar...

Quinto princípio

A imaginação é o limite.

Post-scriptum

Estou feliz por estar em novembro. Mais feliz ainda por estar em outubro. Afinal, setembro já passou e ainda tenho algum tempo para acreditar que o próximo ano será melhor. (Não que eu leve isso a sério... Mas também nunca tinha acreditado em data de aniversário...)

E, com a greve da Polícia, a corrupção explícita já contamina o novo blog... S.O.S.!!!

Em casa há algumas horas, mas ainda insatisfeito; ainda espiritualmente pendente. Naveguei pelas curvas semi-nuas da Via Expressa... pelas notícias sociais do Yakult... pelos "spams tolerados" do GMail... pela coca-cola envenenada do Seu Paulo... pelos planos, projetos e providências... Nada!... Do, jen nun la adoleskanta Lekso Pozŭaho spirita krizo! (Ou, em palavras mais simplesmente "homeopáticas", the book is on the fuckin' table, freak!)

A duras penas vou convivendo com a reiterada conclusão de que a ignorância não é uma estratégia bem-sucedida. Suponho, aliás, que eu tenha alguma idéia relativamente solidificada sobre o que viria a significar "sucesso" — o que é uma suposição, no mínimo, razoável. Pois, sei que preciso de um pouco de ar... de um pouco de descanso... de um pouco de colo... Sei que preciso de um pouco de fé... de um pouco de respeito... de um pouco de carinho... São apenas idéias, sentimentos... Coisas que mudam, também... E são coisas reais; mais importantes, talvez, que o que costumo dizer apenas metodicamente que "talvez"; tudo assunto muito sério...

Gostaria de saber por quê. Mas não me incomodo muito, a ponto de querer esmiuçar. Esses pensamentos são um tanto mais profundos que a esfera em que vivem as coisinhas que me excitam a vaidade. Bem, talvez seja por isso que este texto esteja no blog errado. Afinal, não espero mesmo que ninguém mais entenda. Eu entendo (não que isso ajude): é tudo sobre uma solidão que ainda tento crer que vá passar... sobre os fragmentos da mais bela estrela cadente... Tudo sobre o nada que há agora além de uma saudade pulsante...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A decisão

Tive que decidir se tenho tempo ou não. Ora!, é preciso ter tempo para poder decidir!... E, como sinto grande necessidade de poder qualquer coisa; apesar de meus tormentos e devaneios; diante de minha (pouca) fé na lógica; decidi: — Foda-se a pressa! — Foda-se a pretensão de utilitarismo! — Fodam-se os Nem Secos! — Sou contrabaixista!... E, o cara das baquetas, eu sei quem é!

(Tenho o tempo necessário.)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Antítese

A perfeição só é possível na ausência do tempo.

domingo, 12 de outubro de 2008

sábado, 11 de outubro de 2008

Anne LeClaire

Li uma versão adaptada, reduzida, de Entering Normal, logo após concluir a leitura do livro que o precedia na coletânea do Readers Digest. Na ocasião, estava ainda muito cedo para dormir, mas não consegui largá-lo até terminar. — Um livro maravilhoso.

No dia seguinte, estive pela primeira vez sozinho no shopping center em que assisti ao cinema pelas primeiras vezes. Lembro-me de pelo menos dois filmes: O Máskara e Titanic — o que dá idéia de quanto tempo faz. Eu só havia estado nesse shopping acompanhado de meu pai, inclusive mais recentemente, num dia em que ele veio me visitar aqui em Belo Horizonte. Voltava lá agora para conversar com uma amiga do trabalho sobre seus problemas profissionais, tornados pessoais. Provavelmente teríamos conversado como era pretendido, mas acordamos tacitamente que não convinha discutir aqueles assuntos na presença do marido, que desde sempre teve sua opinião sobre a forma de os resolver — justamente a solução que queríamos evitar. Pois, as férias lhes farão bem.

Mas muito me alegrou a idéia de poder procurar na livraria outras obras de LeClaire. Dos livros que tenho lido recentemente — entre best sellers, clássicos e outros menos divulgados —, Sinais de Vida (Entering Normal) foi especial. Definitivamente não o foi por conta da elaboração da trama, nem pela originalidade do tema; mas porque nenhum outro romance conseguiu me estabelecer tamanha ligação emocional. Ao mesmo tempo, foi a melhor redação que já vi de autor americano. Claro, era obra traduzida e resumida, mas quis conhecer mais.

Chegando na livraria do shopping, perguntei por Anne LeClaire. O computador não encontrou nada. Até encontrou um Leclaire, mas não minha Anne. Saí de lá frustrado, mas não de mãos vazias: adquiri Crime e Castigo na tal tradução direta do russo. Levei para casa ainda a sugestão de pesquisar num tal de Estante Virtual, onde eu poderia encontrar minha Anne nalgum catálogo de sebo. Claro, meu espírito tem sede do que Dostoiévski tenha a me dizer; mas, mais ainda, hoje, tenho sede de Anne.

Em casa, a Estante Virtual me indicou apenas outro livro, também em coletânea do Readers Digest; o mesmo de que já me alertara o Google. (Na verdade, indicou também a versão original, completa, em inglês, do livro que tanto me encantara.) Não fiquei satisfeito com outra versão resumida — tinha de haver uma versão completa! E, como não consigo sair ileso de um sebo, meu novo dicionário de esperanto-português deve chegar em minha casa na próxima semana...

Por fim, voltei ao site oficial da escritora e procurei informações sobre suas traduções. Não encontrei nada a respeito. Mais tarde, eu receberia a resposta, carinhosamente assinada por Anne LeClaire, de que suas duas únicas traduções em português estão nas versões resumidas do Readers Digest. Nunca tive, como agora, tanto desejo de aprender inglês...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Enquanto a roda escapava do mundo das idéias...

O erro é mais notório que o acerto. (Ponto para Murphy ou para a etiqueta?)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Sinais de Vida

Esta noite passei na companhia de Anne D. LeClaire. Quero conhecê-la melhor. Sei que vou. E que não a esquecerei.

sábado, 4 de outubro de 2008

A Salvação

Não faz pouco tempo que ouvi falar da correlação entre a expectativa e a decepção. Lembro-me de um livro de um dos alardeadores da PNL. Faz sentido. É o que explica boa parte do que um tempo atrás chamei de "onda" — a alternância entre meus bons e maus estares.

Não chego a temer as boas sensações, as que me fazem desejar que sejam eternas. Algumas têm sua constância, embora isso não seja comum em sensações de maior intensidade. Eis mais uma chave sobre meu "período medieval", que ainda me exerce tanta influência. Meu ponto fraco ainda é a busca pela Salvação.

[...]

Ontem estive conversando com um cara bacana, que no meio da conversa lançou a perspectiva das características dos pontos das pessoas. Ele disse que seu ponto fraco era mulher. Fiquei ruminando: — Pode ser bacanamente possível fortalecer o ponto fraco. Mas, supondo que um "ponto fraco" pudesse não ser invariavelmente fraco, então teria de ser apenas uma palavra. Decidi-me por "ponto-fraco" — afinal gosto da palavras compostas em que as componentes mantém sua independência fonética. Nunca gostei de exceções, menos ainda de adivinhação. Pois, "ponto-fraco" é melhor. Meu cachorro era o Toco, um pastor belga; minha guitarra é a Sotustra, uma Washburn Lyon; minha motocicleta é a Fernanda, uma semi-esportiva acessível; meu ponto-fraco é a Salvação, que, pelo jeito, também deve de ser mulher.

[...]

Estou aqui experimentanto a música do Tiro Williams, que conheci na véspera do dia em que me desiludi com a Malu. Eles estavam lá na ocasião mesma, também. Pena que a qualidade de áudio do II BH Indie não seja lá essas coisas. Ou que talvez eu não tenha tido tanta sorte. Bem, não quero dizer que o som seja ruim, mas se aquilo fosse um show de música industrial de um selozinho qualquer, certamente teria dado pra entender o que as letras diziam. Se é que dissessem algo. Ainda bem que as letras da Malu eu já conhecia muito bem. 

Enfim, agora que me é possível ouvir as letras do Tiro Williams, gosto muito; especialmente da canção Painter Jane, que também está lá no MySpace. Daqui a mais 50 execuções, o número de Painter Jane ficará maior que o de A Despretensiosa (o que, conforme minha verdade-de-momento, será muito merecido). Tenho também o cedezinho, que comprei naquele sábado; então, se Painter Jane nunca chegar a ter mais ibope que A Despretensiosa, é culpa do cedê...

[...]

Pois ontem tive uma decepção considerável. É que a Salvação veio me visitar, foragida da Idade Média. Ela sacou seus encantamentos, que encontraram meu espírito previamente amolecido pelas 36 horas de vigília do meu corpo. Pois é; muitos horrores nascem do cansaço (e da solidão). E dado que todas as sensações aparentadas com a decepção são catapultados pela expectativa, esta que é o mais apurado feitiço daquela bruxa...

Enfim, estou cansado e triste. Amedrontado, em parte. Como ainda sou muito ganancioso na arte de especular sobre a minha vida, eventualmente ocorrem estouros de bolhas, como tem ocorrido com o mercado americano. Daí, a frustração, certo abatimento e, nos casos mais graves, a prostração. 

Sei que nenhuma escolha é irrevogável. Por outro lado, eu apostaria muito alto que morrerei sem ter força suficiente para levantar com um só braço minha moto sem sofrer uma grave lesão muscular. Em todo o caso, aqui estou a desenvolver minhas humildes roldanas...