sábado, 18 de dezembro de 2010

Enfim, o cachorro do metrô...

Hoje realizei um pequeno sonho, meio que de boca arreganhada, com um quê de Raul Seixas. Tudo a ver com o cachorro hipotético do metrô, de que comecei a contar noutro post. É algo sinistro, mas vou tentar contar agora, na esperança de que assim eu tenha alguma condição de conseguir dormir de novo algum dia.

Desde há muito tempo, sonho em um dia encontrar um cachorro bravo, não muito grande nem tão forte (por favor!), e que, muito especialmente, deseje me atacar enquanto eu passe por uma rua qualquer. Se nesse dia Zeus estiver em favor da satisfação da minha fantasia, estarei calçando um Nike pontudo, ou botas, ou qualquer outro calçado fechado, como costumo estar desde que a tal figura me amadureceu. Então estarei pronto para despejar sobre ele um tanto de uma fúria há séculos guardada. Nesse dia — que me perdoe a Emília! — talvez eu mate um cachorrinho...

Se é que isso um dia ocorrerá, não tenho certeza de como reagirei ao ataque. Creio que os cães sejam bichos razoáveis, e que, por isso mesmo, dificilmente um cachorro pequeno e lúcido atacaria uma pessoa violenta como eu. Talvez aqueles poodles da vizinha fossem cães covardes, que atacassem apenas adolecentezinhos magricelas e indefesos que estivessem azarando a filha da dona. Talvez fosse porque eu estava de bicicleta e de chinelos, incapaz de dar coices, a quinze minutos de nadar na piscina funda do SESI Minas pela primeira vez. Talvez, desde então, meu "cachorro ideal" seja um poodle louco ou ciumento, que eu possa chutar com capricho, bem no espaço entre a garganta e os pulmões, em algum momento em que Lidiane não esteja olhando. Talvez eu chutasse uma vez só (o que deveria ser "com louvor" de suficiente); ou talvez — como no sonho de Norman Mailer — eu só parasse de chutar quando a cãibra ou a polícia entrassem na estória...

(...)

Por fim, hoje cedo apareceu um tipo diferente de cachorro, que terminou sendo muito diferente do esperado. Se bem que não esperei tanta coisa assim; mas talvez tenha pensado num momento mais confortavelmente oportuno (que bem poderia nunca ocorrer) para que aparecesse esse cachorro em especial. E não é que o filho da puta me perseguiu até o final da noite, e permanece até agora latindo aqui, junto à janela do quarto, direto no meu ouvido?!... — O pior é que, de algum jeito, ou é cachorro grande, ou sou novamente um pré-adolescente magricela calçando Rider sobre pedais. Deu, afinal, tudo errado. Nem mirei a garganta do desgraçado, e, se ele quisesse, me fazia mais que aqueles cinco pontinhos no pronto-socorro. Por fim, como ultimamente tenho aprendido a me arrepender, só me resta agora pedir desculpas àqueles poodles alegres de quase vinte anos atrás. Talvez quando eu conseguir, com minhas preces, livrar os doces cãezinhos do inferno a que os lancei, eles venham aqui piedosos, e me tirem da janela esse lobo de jaqueta e All Stars, essa besta que parece pretender me atormentar até à insônia — ou à insanidade...

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