terça-feira, 28 de outubro de 2008

Observações preliminares

Acontece comigo, às vezes: não vou com a cara do cara. Aconteceu-me com René Descartes, não somente pela fragilidade das suas duas primeiras conclusões (e também de muitas outras), mas principalmente pelo estilo literário que encontrei nas duas obras a que tive acesso, especialmenete no Discurso do Método. Afinal, como não fui com a cara dele (ou com a do tradutor), pouca coisa guardo de suas idéias. Mas, ainda assim, lembro-me dele com carinho, por conta da sua teoria sobre a evidência.

A importância que Descartes dá à evidência beira o religioso — com o que fiquei fascinado. Antes de meu contato com ele, ainda não havia concebido a razão como religião, nem mesmo hipoteticamente. Depois, mais tarde, andei me esbarrando com alguns teóricos do catolicismo e ouvi falar da proposta da Teologia; tudo, aliás, coisa que sempre rondou meu cotidiano, mas a que então não havia dado atenção. De certa forma, não deixo de ter sérias reservas quanto ao "critério da evidência" de Descartes, já que tanta coisa me aparentou ser fantasiosa na parte de sua obra que não se restringe à matemática; mas, por outro lado, muito me seduz a idéia de ser capaz de reconhecer a verdade, como se ela emanasse das proposições, à espera de alguém capaz de captá-la. Fico seduzido como Raskólnikov com seu Napoleão Bonaparte — e talvez tão gravemente quanto.

Por fim, com todas as reservas quanto à infalibilidade da evidência (ou do que quer que venha a receber esse nome), como bom partidário da dúvida metódica, adoto o princípio da evidência como guia, já que a verdade, se existe, é forçosamente evidente. Assim, deixo as ressalvas apenas para quanto à minha competência material de reconhecê-la completamente — uma porta desimpedida para a reconsideração.

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