sábado, 6 de dezembro de 2008

Prece de um cristão agnóstico

Aprendizado é algo mau? — Longe de mim! Que filósofo seria eu se cresse nisso assim, brutamente? — Pois, há perniciosidade potencial em tal crença: — Suponhamos que as verdades sejam absolutas, e que às conclusões violentamente verossímeis coubesse a classificação de verdadeiras. — Então caberia um esforço colossal para a manutenção do heróico feito, ainda que a verossimilhança de então já não se impusesse como tal em decorrência do desfalecimento da outrora berrante impressão. — Pois, suponhamos assim: que a evidência imediata seja um critério suficiente-bastante para a glorificação futura, e que o que vier o pressuponha. Suponhamos, pois, assim, e assim prossigamos.

Assim se obriga a manter e justificar as possivelmente meras opiniões anteriores. Assim atribui-se à emoção — e não à evidência — o poder supremo de persuasão. Assim, com o sentimento de reverência ao fato emocionalmente relevante e em gozo do direito de abstenção, aceita-se forçosamente como definitiva uma conclusão possível-meramente momentânea. Assim a falácia deificadora obtém seu adjetivo. Assim nasce um dogma, o que possível-infelizmente afasta o filósofo do cristianismo, ao qual seria mais fácil servir estando-se isento da influência destarte nefasta da dita Santa Igreja Católica, além doutras ditas autoridades cristãs menos relevantes (para mim).

Sinto que ainda desenvolverei muito-mais-profundamente minha fé; mas, queira Deus — se é que existe —, eu não me renda à religiosidade comum das verdades indiscutíveis. Seja Deus recorrentemente evidente. Deus, se existe, entenderá minha prece; se existe e não a entende, — e com todo o respeito que lhe caiba — que ele se foda assim como eu. Amém.

4 comentários:

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  2. Valeu, Redão! Já estou entrando em contato! By the way, excluí seu comentário porque continha seu número de telefone, que não é bom deixar assim exposto...

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  3. Suponhamos que estejamos no Séc. XI d.C..
    Suponhamos que somos Cardeias e/ou qualquer outro dirigente da Igreja.
    Suponhamos que objetivemos o Poder Absoluto.
    Suponhamos ainda que, a partir daí, entedamos que, com a nossa Autoridade atribuída, possamos modificar o conceito de "Verdade" para que os nossos objetivos sejam alcançados.
    E que, depois de estabelecido este novo conceito, todos os que discordam dele sejam perseguidos e mortos. Todos os "crentes" seriam considerados "bem-aventurados", e os indecisos, por fim, se converteriam à fé da Igreja. E o nosso Poder seria, virtualmente, Absoluto. Me diga, por que haveríamos de não fazer estas cousas?...

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  4. Concordo contigo, Mr. Black. Quanto a dever ou não — e mantendo meu discurso anti-moralista —, não tenho como me manifestar. Considerando o poder do elemento religioso, creio que qualquer um seria capaz de promover mesmo um holocausto. Prosseguindo com a figura proposta, entendo que ainda que esse cardeal não se afetasse pessoalmente por essa fé, a fúria do desejo de quem se guia esteticamente (no conceito de Kierkegaard) não tem limites. Inclusive foi nessa perspectiva (a estética) que escrevi o texto acima.

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