É imprescindível estar satisfeito? — Ainda não tenho opinião sobre isso. Mais conveniente é a resposta negativa; mais fácil, afinal. Mas vejamos...
Não pode haver satisfação em tempo integral. Algumas coisas só existem em pares com seus opostos — eis o fundo lógico do maniqueísmo. Supondo que a satisfação fosse algo permanente, seria forçoso admitir que o conceito perderia seu propósito. Isso é básico. Dessarte, temos dilematicamente uma meia-resposta: é impossível estar satisfeito o tempo todo.
Mas por que que desejo estar satisfeito o tempo todo? — Ora, mais fundamental que o problema da satisfação é o problema do desejo. Desejo é a força que impulsiona o espírito à ação — observe-se o desejo sexual, a fome e a sede; observe-se o desejo pelos bens materiais, pela vitória e pela felicidade. Na ausência do desejo temos um espírito passivo, inerte, sombrio, desprovido de tudo aquilo que qualifica a vida. Se pudermos admitir que o desejo é peça fundamental da vida, parece razoável supor que a carência do desejo cause a morte. Vivo, logo desejo; desejo, logo vivo. Mas voltemos à questão...
Considerando que o desejo é um componente necessário e desejável da vida; que a morte é inevitável; que é impossível estar satisfeito o tempo todo; e que o Paraíso é o lugar onde as três afirmações anteriores são falsas, desejo estar satisfeito porque sou ao mesmo tempo descrente e desejoso da vida eterna. Sou uma quimera.
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