domingo, 7 de junho de 2009

A Praça

Moro numa cidade estranha, cheia de coisas estranhas. Na Metrópole, nas faixas-de-pedestres abarrotadas e disputadas, as pessoas — que se acotovelam quase sem se enxergarem — parecem menos distantes. Aqui, todos se vêem, como se vê a um semáforo fechado, ou a um pedestre que determina a parada obrigatória. Nas ruas todos se concebem quase como a objetos, como se o clima seco fosse capaz de infligir às almas aridez. Nas ruas, no lugar de pessoas, há pedestres; nos shoppings e elevadores, há transeuntes. 


Mas nas salas, há colegas. Lá os candangos retiram suas couraças e se revelam humanos; tão ou mais humanos que na Metrópole ou no Interior. (Talvez seja porque nas salas há umidificadores de ar.) Pois, nas salas, é como se encontrássemos em suas casas velhos parentes, que nos recebem com um café quente e um abraço caloroso. Então se descobre que a Capital não é habitada apenas por bonecos de bronze.

Quem me conhece sabe que aqui não estou feliz; sabe também que eu não estava feliz onde estava. Às vezes me perguntam se eu desejo voltar. Não compreendem quando eu digo que já não é possível. O lugar do qual sinto falta já não está na lá; está onde só posso chegar com a lembrança. Deixei uma parte de mim pra trás; não no espaço, mas no tempo. O que está a apenas 1000km de distância está perto; está comigo. Aqui — ou seja, neste momento — minha sede é maior que minha capacidade de beber. Faço companhia aos bonecos de bronze.

Um comentário:

  1. Não sei se faço parte da lembrança boa que guarda, mas com certeza quando li suas palavras, me remeti àquele tempo em que fui muito feliz, mais feliz que em qualquer outro momento da minha vida.
    Me emocionei e me emociono sempre que ouço falar ou que vejo coisas a a seu respeito.
    Me perdoe por tudo que não pude fazer!
    Vc foi uma parte importantíssima em minha vida.
    Juliana Palma

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