sábado, 6 de junho de 2009

BR-070

Bate em meus pulsos um vento frio de saudade; algo como quando me deparei com a Metrópole; mas a semelhança, se há alguma, está na essência, muito abaixo da superfície. Naquela ocasião, comecei a relembrar de tempos remotos; a sonhar com imagens longínquas; com algo que se tornara passado sem que eu percebesse, como se entre um tempo e outro houvesse um período de escuridão, introduzida por uma sonolência suave e súbita... Teria sido um período misto de sonho-bom e pesadelo, em que eu me encontrava sobre um penhasco à beira-mar, tendo aos pés pedras cristalinas a serem lambidas pelas ondas; em que, nos momentos de maior lucidez, sentia o vento frio e reconfortante de um fim-de-tarde sem sol, que ansiava por me unir as pálpebras, para me trazer à língua o sabor acre das pedras. Era outra, aquela saudade...

Hoje tenho uma saudade sem dor, amadurecida, resignada. Sonho e deliro ainda, mas provavelmente. O tempo passa devagar enquanto por nada espero, num primeiro sinal de velhice. Começo a descobrir certa força; a realizar certos propósitos; mas o faço como a uma obrigação acessória, quase fastidiosa. Muitas pequenas alegrias, quase nenhum desgosto; — o interior vazio. Saudades daquela solidão tão profunda e rica, que só pode assolar a quem tem próximo de si um ser amado.

Poucos metros à frente, naquela mesma estrada, um condutor que procure o retrovisor central encontrará uma motocicleta, guiada pela sombra de um personagem de ficção.

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