sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Hipótese

Aprendi a descrer do amor. Do amor, minha mais profunda decepção! Ah!, como estive apaixonado!... Tão sinceramente apaixonado!... Tão belamente apaixonado!... E nos abandonamos reciprocamente, minha maior fonte de vida e eu!... Ainda mais dolorosa, a ruptura com o amor: ao romper com o amor, rompi com o que mais amava.

Ora, há quanto tempo não me sinto tão cansado?... Há quanto tempo não me permito dizê-lo?... Há quanto tempo só tenho chorado por desespero... por confusão?... Porque antes, noutro tempo, noutra vida, eu ainda podia chorar em silêncio, ao som surdo da minha jugular; e meu coração batia a ponto de ferir!... Ah!, meu coração, como batia!... Com violência e estrondo!... E fui feliz!... Ah!, como fui!... Como jamais imaginara possível... Oh!, mas, então, a grosseria! Que grosseria! Que estupidez! Que indecência! Que sacrilégio!... Ah!, não podia ter razão!... (Jamais!) E havia de se arrepender!... E eu perdoava imediatamente, de todo o coração, em prantos; com as lágrimas que ainda guardo... que fazem parte de mim... que às vezes derramo por acidente, quando transbordam...

Mas meu respeito foi mais forte. Transformei meu santuário num mercado, grosseiro e sujo, cheio de vozes e buzinas, estúpido como minha ofensa. E não tive paz, mas encontrei sobrevivência. Então a algazarra silencia... e noto o vazio pungente que brota do altar... Então me levanto... e vejo a fé, outrora agonizante, transformar-se no lenço prateado com que lustro um tesouro, o relicário do amor que se tornou em saudade. Afinal, volta a haver espaço para amar. Para amar até o fim, nem que seja à própria vida.

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